sexta-feira, 30 de julho de 2010

A HISTÓRIA E A POLÍTICA

HISTÓRIA E POLITICA

Nesse artigo, o autor propõe uma análise acerca das questões relacionadas ao universo da história e da política e como esse campo do saber se constituiu ao longo do tempo. Segundo Sêga (2002), o poder, as guerras, a política e as sedições foram centradas pela escrita da história desde suas primeiras tentativas de estabelecimento disciplinar. Já na Antiguidade Clássica, Heródoto tenta superar os poetas e expõem em prosa o ocorrido nas guerras Médicas para que elas não caíssem em esquecimento, expondo uma visão política do mundo. Desde os helenos a preocupação da história é resgatar a vida dos moradores da cidade (a etimologia do termo política vem do grego pólis). O autor observa que o Estado tornou-se o principal ponto de atenção dos historiadores, e suas obras passaram a figurar a vida de monarcas, generais, constituindo uma modalidade que muitos historiadores chamaram de história política tradicional. Desse modo, a historiografia feita durante a Antiguidade Clássica focava apenas a classe dominante e suas relações com o corpo social. De acordo com o autor, tanto na Grécia como em Roma, a vida pública era envolvida com a vida religiosa, fazendo dos deuses sujeitos da história. Contudo, durante a Idade Média a historiografia passou a contar com vários relatos sobre a vida pública, as guerras e sobre a vida eclesiástica. Foi um período que multiplicou as obras de biografias de santos. Já a historiografia humanista e renascentista estabeleceu outro diálogo com esse universo, apesar de não ter introduzido mudanças significativas a respeito da interpretação da política. No entanto, iniciou duas tendências fundamentais: a discussão erudita das fontes e a eliminação definitiva do divino e do sobrenatural da história em busca dos fatos verdadeiros, ou pelo menos verossímeis. Ressalta o autor que entre os séculos XVI e XVIII surgiram os primeiros historiadores profissionais, ora para legitimar o poder do príncipe, ora para legitimar o poder da Santa Sé. Nesse mesmo período, ocorreu o refinamento do método erudito, ao qual vai gerar as Ciências auxiliares da História (a paleografia, a diplomática, a genealogia), que serão fundamentais para a posterior consolidação cientifica da história no século XIX. Com a Revolução Francesa e a busca do racionalismo pelo Iluminismo no século XVIII intensificou-se o estudo da História Política. Em oposição ao racionalismo, o romantismo trouxe o abandono das fórmulas clássicas e a introdução de novos estilos à escrita historiográfica, contudo não descartou a crítica documental e a predominância do político, utilizando da história para o fortalecimento dos Estados nacionais. O romantismo cedeu ao cientificismo positivista, fortalecido pela escola Metódica no século XIX, o qual defendia uma epistemologia empirista absoluta, ressaltando a importância do fato histórico na produção científica da história. Leopold Von Ranke, o principal defensor dessa historiografia positivista, propunha uma elevada crítica documental, para que o historiador por meio dos documentos ditos oficiais explanasse os fatos tal como ocorreram, numa narrativa seqüencial e linear de fatos políticos. Essa história “historizante” (factual) foi derrotada pelos ataques de sociólogos como Durkheim e pela renovação metodológica proposta pela Escola dos Annales, que entendia que todos os aspectos sociais estavam sujeitos a transformações e mudanças, e não só o político. Febvre e Bloch, os principais nomes desta revista, lutaram para construir uma historiografia constituída como ciência social, sem a pretensão da descrição objetiva do real, mais voltada para as formas de viver e para a cultura. O homem passou a ser percebido em sua totalidade e os temas da escrita histórica passaram a ser a geografia, as mentalidades, o cotidiano e a economia. O marxismo e o estruturalismo reforçaram esse desprezo pelo estudo do político. Na década de 60, as revoluções (principalmente a francesa) foram reestudadas, por influência da Nova História (herdeira dos Annales), com sua investigação sobre as mentalidades, como pela historiografia inglesa de cunho marxista, que procurou nas revoltas e nos movimentos revolucionários captar a manifestação das percepções culturais da população. Atualmente, os historiadores voltaram seus focos de análise para a narrativa das vidas privadas, do cotidiano de pessoas comuns e dos acontecimentos diários, rejeitando análises macroscópicas e até mesmo estruturais que predominaram nas décadas de 60 e 70. Com isso, é colocada em relevo a corrente conhecida como Nova História Cultural, que propõe uma renovação teórico-metodológica para a História Política. Esse ramo da historiografia contemporânea propõe mudanças na forma de escrever a história, com ênfase no estudo do universo simbólico, procurando, ao estudar o poder, resgatar a ação política humana no tempo e os sentimentos, as emoções, as formas de pensar desses agentes. Essa renovação metodológica da História Política incorpora uma reflexão sobre os mecanismos culturais de poder, ou seja, como são estabelecidas as relações entre governantes e governados. A História Política tradicional foi a principal forma de escrita da história até a segunda metade do século XIX, quando as ciências sociais passaram a questionar esse tipo de abordagem factual. Após um período de letargia, as discussões atuais sobre a História Política apontam para uma análise renovada, que busca entender até que ponto os homens são genuínos sujeitos históricos ou meros atores dentro de uma estrutura de poder supra-individual. Com isso, o autor faz uma análise das principais transformações que a História Política sofreu ao longo dos séculos.

SÊGA, Rafael. Historia: Questões & Debates. Curitiba: ed. UFPR, 2002

5 comentários:

  1. A política sempre estará influenciando a história, mesmo quando nosso foco seja o cotidiano da população. Muito interessante sua postagem.

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  2. A história sempre terá a política como uma de suas principais fontes, nossas vidas é regida pela política mesmo conhecendo a figura triste que é a política atualmente.

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  3. Realmente houve transformações na História Política ao longo dos séculos. Mas a empressão diante das situações que hoje vivemos, é que elas não foram tão grandes assim.
    Muito interessante sua postagem. Valeu!

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  4. DESVINCULAR POLITÍCA DE HISTÓRIA É QUASE QUE IMPOSSIVEL, POIS ENTENDE-SE POR POLITICA TODAS AS ACOES HUNANAS EM SOCIEDADE POR ISSO ESSES TORNA-SE OBJETO DE TANTOS ESTUDOS E DEBATES

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  5. A politica faz sua história e a história ananlisa seu processo de interesses e poder. Excelente artigo , parabéns.

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