terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma analise do coronelismo no Brasil

UMA ANALISE DO CORONELISMO NO BRASIL


A corrupção, o nepotismo, o patrimonialismo e o clientelismo são práticas presentes na história do Brasil, um elemento fundamental para compreender o funcionamento dessas práticas é o coronelismo que teve suas origens no império, mas foi no período da Primeira República oligárquica que teve sua maior expressão, sendo que na década de 1970 começou a declinar.
O coronelismo é visto como símbolo de autoritarismo e impunidade, o termo foi criado para designar certos hábitos políticos e sociais próprios do meio rural brasileiro, onde os grandes proprietários rurais, ditos coronéis, exerciam domínio sobre as pessoas que viviam em suas terras ou delas dependiam para sobreviver.
A origem do coronelismo brasileiro é bastante controvertida, alguns historiadores remontam a criação da Guarda Nacional. Sendo que é daí que advém o termo coronel. Criada no período colonial, em substituição às milícias em ordenanças com a finalidade de defender a integridade do Império. Os chefes locais mais destacados ocupavam nela os postos mais elevados no caso de coronel, seguido de major e capitão. De acordo com Pang, o termo “coronel” significa literalmente coronel, um posto militar originado nas milícias coloniais do fim do século XVIII, apesar de muitos acharem que o titulo provem da guarda Nacional (1979.p.19). O cerne do coronelismo também esta relacionado aos aspectos sócio-políticos do monopólio do poder por parte das classes dominantes e auxiliares, nos regimes monárquico e republicano no Brasil.
A guarda Nacional foi extinta logo após a proclamação da República, contudo persistiu a denominação de “coronel” de onde se originou o vocábulo de coronelismo.
Seria bastante significativo fazermos uma análise sobre as estruturas oligárquicas. Estas, segundo os estudiosos, são divididas em quatro grupos como: famíliocrática, tribais, colegiado e personalista.
Pesquisa aponta a oligárquia familiocrática como categoria onde a maioria dos coronéis brasileiros se encontrava.
A suposição de que todos os coronéis eram donos de terra é simplesmente falsa. A ascensão do coronel dependia de muitos fatores externos característicos de sua profissão, domínio e recursos pessoais. É possível classificarmos em sete tipos de coronéis, que podem ser dividido em duas categorias amplas: a ocupacional e a funcional.
Na categoria ocupacional estão situados: o “coronel proprietário de terras”, que de acordo com as pesquisas é o arquétipo brasileiro, ”Coronel comerciante”, ”Coronel padre”, Pang faz uma referência a este, como padre Cícero, o maior líder religioso do catolicismo popular, era reconhecidamente um coronel de coronéis, também havia o “coronel-industrial” este era raro no nordeste. Na categoria funcional está ”Coronel- guerreiro”, Coronel-burocrata é o coronel-chefe do curral-distrito, que origina de todas as categorias profissionais.
Segundo Pang, o município era o baluarte administrativo de um coronel (1979.31). De modo geral um coronel era o principal chefe de um município e acabava assumindo grande poder, era, sobretudo uma figura local exercendo influência nesses municípios pequeno e afastados.
O coronel mais importante em cada município ou região estabelecia aliança com outros fazendeiros para eleger o governador do estado..Depois de eleito o governador retribuía o apoio recebido dos coronéis destinando verbas aos municípios.Era uma troca de favores.As conseqüências dessas alianças, era que o poder político ficava sempre em mãos do mesmo grupo.
O coronelismo como forma de domínio oligárquico foi reforçado pela evolução política da Primeira República principalmente durante o governo de Campos Sales

CORONELISMO E ELEIÇÕES

A política dos governadores institucionalizou a troca de favores entre os lideres oligárquicos, tendo como base uma rede de poder que unia as instâncias federal, estadual e municipal. Seu funcionamento, portanto dependia de elementos articuladores. Aos coronéis coube a importante tarefa de controlar o eleitorado no seu município de atuação. Muitas vezes para chegar ao povo votante, o coronel ativava o cabo eleitoral, alguém prestativo do seu meio, incluía também ai o exercício da fraude eleitoral. Uma das formas de controle dos coronéis eram a troca e favores. Sabemos que os principais cargos dos municípios, na escola, na delegacia, na estação de trem, no cartório público e muitos outros estavam sujeitos á influência do coronel. Sendo enorme os seus poderes em nível municipal, inúmeras pessoas dependiam deles para arrumar emprego, dinheiro emprestado ou favores políticos. Em troca dos “favores” concedidos os coronéis exigiam que as pessoas votassem nos candidatos por eles indicados. Essa prática contribuiu para a formação de verdadeiros currais eleitorais, ou seja, todas as pessoas que deviam favores aos coronéis acabavam votando nos seus candidatos. Outra forma de controle era a utilização de capangas, os famosos jagunços que intimidavam os eleitores a se manterem fiel ás orientações dos coronéis pelo uso da violência..Esse tipo de voto obtido pela intimidação ficou conhecido como “voto de cabresto”.
O voto de cabresto resultou num tipo de sistema eleitoral predominante na República Velha. O sistema político desta estava assentado na fraudes eleitorais, visto que o voto não era secreto, mas aberto,dando margens a fraudes.Para votar ,o eleitor dirigia-se a mesa eleitoral,composta pelo presidente da Câmara e de mesário por ele indicado,que controlavam as listas de presença e votação e observavam o voto de cada eleitor.
Além do voto de cabresto os coronéis utilizavam também outros artifícios para fraudar e ganhar as eleições. Documentos eram falsificados para que menores e analfabetos pudessem votar, pessoas que tinham morrido era inscritas como eleitores, era os conhecidos eleitores-fantasmas, essa falsificação foi denominada de o bico de pena, houve ainda a adulteração e muitas artimanhas era feita na contagem dos votos.
A degola ou depuração como se costumavam dizer, consistia nos candidatos vitoriosos não apoiados pelo grupo dominante, cujos mandatos não eram reconhecidos, tendo como conseqüência sua exclusão, enquanto os candidatos fiéis ao executivo sempre tinham seus mandatos reconhecidos. As eleições locais era a peça chave do sistema oligárquico que imperava na Primeira Republica. Os coronéis que garantiam o voto dos eleitores de sua área de influência aos candidatos governistas, que por sua vez indicavam o candidato a presidente da República. Quando eram eleitos candidatos que colocavam em risco a supremacia da oligarquia, a Comissão de Verificação de Poderes, encarregada de verificar se poderia ter havido fraude nas eleições e diplomar os eleitos. Ela então se encarregava de criar os argumentos para não empossar o candidato da oposição e diplomar aquele que fosse o representante da oligarquia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que o coronelismo era sinônimo de poder e uma forma de “mandonismo local”. No sistema político criado pelo regime republicano os coronéis adquiriram a tarefa de controlar o eleitorado no seu município de atuação. Ficou explicito que esse controle era feito através da prestação de favores, barganhas políticas. Outra forma de controle era a utilização de capangas, jagunços que intimidavam os eleitores a serem fieis às orientações dos coronéis.
Podemos inferir que a eleição na Primeira República não satisfazia a vontade popular, mas sim das oligarquias estaduais, estas eram marcadas pela corrupção pela fraude, o qual tornou bastante notório e enraizado no regime representativo brasileiro.Percebe-se que as práticas clientelistas e partenalistas foram bastante comuns na política do Brasil e ainda hoje aparece freqüentemente denunciada pela mídia.

REFERÊNCIAS


LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 3ª ed. Rio de Janeiro. Nova fronteira. 1997,
PANG. Eul-Soo. Coronelismo e Oligarquia 1889-1934-A Bahia na Primeira republica Brasileira. Rio de janeiro. Civilização brasileira. 1978.

6 comentários:

  1. Nossa! Acabei de ler e precisava de um copo de água para isso "descer" melhor, como é inaceitavel ler e saber que até hoje temos resquícios disso, saber que um direito , livre pode ser tratado dessa forma pelos dirigentes, é infelizmente temos que tratar desse assunto.

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  2. Hoje os capangas dos coronéis mudaram de nomes "cabo eleitoral" o povo, principalmente a classe desfavorecida é um alvo dessas pessoas para a compra de votos em troca de dentadura,sacos de cimento e outras coisas mais.Fazendoa assim renascer a périodo eleitoral o voto de cabresto.Outro fato que rotineiro no meio político é a compra de voto feito através da prestação de favores, barganhas políticas entre os próprios políticos e grandes empresários par engordarem suas contas bancárias com o nosso dinheiro. O seu texto está muito bem escrito, gostei!!

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  3. Muito interessante este artigo sobre o coronelismo, devo ressaltar que , ainda em nossos dias atuais o coronelismo ainda perpetua a sua condição de poder e com um adicional que foi o surgimento dos grandes traficantes de drogas que de uma forma ou de outra também agem como verdadeiros coronéis matando , mandando em certas regiões e bairros tudo isso através do poder do tráfico de drogas.

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  4. Assim como nós presenciamos em períodos eleitorais os arranjos para alcançar votos, durante o coronelismo também os políticos utilizaram de vários meios de manipular o voto das passoas ou até mesmo obrigá-los a votarem através de arranjos e "favores".

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  5. O coronelismo parece fazer parte do passado, só que não é bem assim, a compra de votos ainda existe através de troca ou até mesmo de intimidações, a classe menos favorecida sempre terá necessidades que serão supridas pelos grandes latifundiários ou pelos políticos melhor dizendo os coronéis da atualidade.

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  6. Lembrei da epoca do cacau em Ipiaú. Historias que meus familiares contam sobre os Coronéis e seus capangas.

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